sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Um dia destes vou procurar saber o que dizem as cartas sobre o futuro.  Sobre as próximas horas mas também sobre os próximos dias.  Mais do que isso não, não quero saber o que acontece para além da semana que termina.  Gosto que a vida me surpreenda, de uma forma ou de outra ela acaba por estar certa.  Ainda que pareça injusto, ainda que me saiba a pouco. 
Um dia destes vou deitar as cartas e saber o que vai acontecer a partir daí.   Vou saber que acordarei ao teu lado de manhã, que irei trabalhar o dia inteiro, que voltarei aos teus braços ao anoitecer.  Ou não... porque pode ser domingo e então o estar contigo será uma ocupação de vinte e quatro horas.
Um dia destes vou pegar nas cartas do passado e trocar a sua ordem.  E depois, uma a uma, vou deitá-las na mesa e adivinhar como será o futuro, se tivesse sido outro o ontem.

Um destes dias vou saber com o que conto.  Ou nem por isso.  Porque isto é como a meteorologia, previsões com mais de 3 dias é bluff...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

E se houvesse um só dia em que não morresse ninguém?  Em que a morte se esquecesse de aparecer e durante vinte e quatro horas não fosse noticia nos obituários dos jornais?  Em que os doentes, os amantes, os bons e os maus tivessem mais um dia para viver, antes que a saudade tomasse o lugar do seu corpo?  Quantos de nós aproveitaríamos esse bónus?  Quantos dariam valor a esse esquecimento e viveriam esse dia como se fosse um domingo?  Quantos se sentiriam abençoados?  Felizes?  Cheios de energia para respirar fundo e segurar nas mãos mais essa oportunidade?  Quantos, por outro lado, continuariam a lamentar-se e a maldizer a sua pequena vida?  Aproveitando mais essas horas para serem vítimas deles próprios?  Para serem protagonistas de uma historia triste?  Que eles tornam triste deliberadamente?

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Ele diz-lhe que a amou desde sempre.  Que nunca a esqueceu.  Que não passou um dia que não recordasse o seu sorriso.  O seu abraço.  Os momentos que tinham partilhado.
Ela acredita em tudo o que ouve.  Gosta do que ele diz.  E sabe que, no fundo, é verdade.  Ainda que a vida os tenha separado, apesar da distância, apesar do silêncio.
Ele casou-se com outra.  E foi com essa outra que plantou uma árvore, que criou raízes, que colheu os frutos.  Foi ao lado dela que viu os filhos crescer e os levou ao altar.  
Ela também se casou.  No mesmo ano que ele, a centenas de quilômetros de distância e sem saberem um do outro.  Viveram a experiência de serem pais quase em simultâneo.  Também sem saberem um do outro.  Levaram os filhos ao infantário e depois à escola ao mesmo tempo, acompanharam os primeiros passos, as primeiras letras.  À distância mas sempre ao mesmo tempo, como se a vida fosse um espelho e eles estivessem de cada um dos seus lados.  Longe, mas sempre dentro da memória um do outro.
Um destes dias reencontraram-se no lar onde ela vive há algum tempo.  Ele nem sabe o que o fez escolher aquele local, entre tantos outros que andou a ver.  De inicio, queria apenas uma casa sossegada, onde tivesse assistência e que ficasse perto da cidade.  Fazia questão de continuar a acompanhar os treinos de futebol do neto.  E contava com a visita dos amigos, também eles reformados, sempre que lhes fosse possível.  Acabou por ficar por ali, como se uma força inexplicável tivesse decidido por ele. 
Naquele dia, quando a viu sentada numa cadeira em frente à janela, voltou tudo à sua memoria.  Pareceu-lhe que ela estava na mesma, pelo menos aos seus olhos.  Ainda antes de se aproximar, já sentia a mão dela dentro da sua, como acontecia quando eram jovens e passeavam de mão dada.  Nesse tempo, o simples toque da sua pele era suficiente para lhe fazer acreditar que tinha o mundo nas mãos.  O seu mundo, que um dia desabou.
Ela olhou para ele e sorriu.  Como se o tivesse visto na véspera e em todos os outros dias. E, de facto, assim foi, mas apenas em pensamento.
Tornaram-se inseparáveis, sabiam que havia palavras que nunca iriam pronunciar mas isso deixou de ter qualquer importância, desde que estivessem juntos.  Os restantes utentes do lar, companheiros naquela viagem, achavam-lhes graça e eram cúmplices daquele amor tardio.  Sem planos nem promessas.  De repente, todo o tempo que os separou ficou reduzido ao ontem e o agora passou a ser todos os dias.

Dizem que o amor não tem idade.  Eu acredito!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Hoje decidi arrumar-te dentro de uma caixa lacada, junto com o resto das minhas memórias.  Não fazia sentido continuares a andar solto por aí, a encontrar-te ao virar de cada esquina, a dar contigo no meio dos meus pensamentos.  Por isso, hoje decidi fechar-te lá para sempre.  
A ideia não é esquecer-me de ti como se nunca tivesses existido.  Nem fazer de conta que tudo não passou de um sonho.  Ou, muito menos, negar o tempo que passámos juntos, como se esse não tivesse sido também meu. 
O objectivo é guardar-te, a ti e a esse tempo, para que nenhum dos dois se misture com a realidade em que vivo.  É preservar-te, a ti e a ele.  Tu és só tu e as memórias que vivemos juntos.  E que eu não vou esquecer porque não posso.  Porque se as esquecesse, seria como encher de vazio os dias, os meses, os anos, em que fui tua.  Em que fomos um.  E isso é impossível acontecer, porque eu não quero.
Hoje decidi deixar-te lá, entre os sorrisos e as lágrimas.  Entre os abraços e o adeus. 
Não te esquecerei, prometo.  Mas vou resistir à tentação de abrir a caixa onde tu estás, de cada vez que me apetecer ouvir a tua voz a dizer o meu nome. 
Não nos esquecerei, está dito.  Mas vou arrumar a caixa lacada numa das gavetas da cómoda para, de seguida, esquecer o lugar onde a guardei.
Tenho saudades do meu bairro.  Dos prédios pintados de cor de rosa e amarelo.  Dos passeios largos, com árvores altas.  Das ruas em T, cheias de carros.
Sinto falta das risadas das crianças na escolinha da esquina.   Dos adolescentes com mochilas às costas, à saída das escolas.  Dos caseiros, da Espigasol.  E dos pães de deus da Padaria Portuguesa.  
Tenho saudades das manhãs de sábado nas esplanadas das "docas secas".  Das ruas cheias de gente, mesmo quando não é dia de jogo no Sporting.  Das lojas e dos lugares que um dia foram lojas.  Dos jardins.  Dos passeios a pé ao domingo à tarde.  Dos grafitis nas paredes.
Tenho saudades do pátio.  De as deixar a brincar com os vizinhos e voltar para casa, descansada.  E de vir, de vez em quando, espreitar à porta a ver se estava tudo bem.  
Tenho saudades das festas de aniversário na sala de condomínio, onde cabia a turma inteira.  E que eram sempre motivo de conversa na escola durante muito tempo - ninguém tinha um jardim tão grande como nós...
Conheci outros bairros, entretanto.  Com casas bonitas, com gente simpática, com algumas lojas vazias, também.  Hoje, os meus dias correm tranquilos nesses lugares.  É tudo mais perto, mais calmo, mais simples.  Passei a fazer mais caminhadas a pé e a usar saltos mais baixos.  O meu corpo agradece e dá-se bem por aí.  Mas o meu coração, esse, volta sempre ao lugar onde ainda vivo, por vezes.  
Sinto saudades do meu bairro.  Do céu por entre os prédios, dos jardins floridos, dos passeios com árvores e alguns buracos, também.  Sinto falta do barulho dos aviões e, quem diria, até do cheiro da poluição.  Sinto falta do trânsito.  E dos carros parados em segunda fila.  Das ruas em T.  T de Telheiras.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Temos de cultivar a paciência.  E a humildade. Temos de valorizar a vida.  E a paz dentro dela.  Temos de dar espaço à simplicidade e ao amor.  Ao carinho, também.  E à gratidão.  O resto?  Tudo o resto podemos deitar fora.  Não adianta guardar para usar mais tarde. Já não vai ser preciso!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O numero três é lixado!  Tanto pode servir de árbitro em caso de empate, como ser a origem do conflito, só por existir.  Pode ter o simbolismo religioso da Santíssima Trindade ou ser o inferno da descoberta de dois mais um numa relação.
O número três é impar.  Nenhum como ele é tão desequilibrado.  Talvez por ser o primeiro depois do dois, que é par, que é companhia, que é complemento.
O número três é quase sempre o que está a mais.  O que sobra.  O que vai no banco de trás, o que não tem lugar no beliche, o que segura a vela, tantas vezes...

O número três é desconcertante, por vezes.
Dizem que somos parecidas.  Fisicamente.  Eu olho para ti e vejo-me em tantos momentos e em tantos outros dias lá atrás...
Dizem que se lembram de mim quando te vêem.  Eu vejo-me ao espelho e imagino-te daqui a uns anos assim elegante, assim vaidosa, assim feliz.
Dizem que somos cúmplices, que te estou sempre a defender.  Eu não sei que outra coisa podem ser uma mãe e uma filha que são pedaços uma da outra.
Dizem que quem gosta repete e eu quis reviver tudo de novo.
Foste o meu maior desejo depois de ter sido Mãe pela primeira vez, tu sabes.  Esperei por ti, desesperei mês a mês, até saber que tinha conseguido.  Finalmente!
Desde então, tens sido a companhia constante, a mão na minha mão, o sorriso ou a birra, o choro, a gargalhada.
És o meu outro motivo de orgulho.  Sempre e para sempre!
Nem sempre estamos de acordo.  É natural que assim seja.  Somos diferentes.
Quase sempre chegamos a acordo.  É uma questão de palavras ou de silêncios.  De respeito, também.  De muito amor, sempre!
Sabes tudo de mim, desde que nasceste.  Antes mesmo de eu te ver pela primeira vez, já tu me conhecias por dentro.  
Habituei-me a contar-te tudo, a dar-te opinião, a falar-te sobre todos os temas, a explicar-te o que, por vezes, nem eu percebia...
É a segunda vez que não estamos juntas no teu aniversário.  Fisicamente...  de resto eu quase que digo que estou aí sentada ao teu lado no carro, a olhar para a mulher em que te tornaste, a reter na minha mente e no meu coração todos os outros momentos em que estamos juntas, a pensar sempre que também eu consigo fazer milagres!
Não dei conta de terem passado por mim estes 24 anos.  É bom sinal.  Significa que foram leves, que foram felizes.  Quer ainda dizer que faria tudo de novo se fosse possível.  Parabéns, minha filha!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Porquê agora?  Porque sim.  Porque agora é o momento em que vivo.  Porque mais logo ainda não existe e nem sei se vai chegar.  E se chegar, quando lá chegar, vou chamar-lhe também agora. 
Porque é urgente.  Porque não pode esperar.  Porque se não for agora, já não será nunca mais. 
Não conheço mais nenhum momento que não seja este, o de agora.  A não ser o que já passou e que foi o agora no tempo dele.  Por isso tem de ser.  Agora!  Já! 
O mais logo pode vir ou não vir, pode acontecer ou não, isso não tem importância.  O que importa mesmo é o agora.  O depois, logo se vê... ♥

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O amor nao se escolhe.  Nao se justifica.  Nem se compara.  Não tem igual.
O amor é como a vida.  Tem dias de sol.  Também tem outros sem luz, cinzentos.  Por causa dele alteramos a nossa vida.  Ou esquecemo-nos de a viver.  E damos a vida por ele, quantas vezes...
O amor põe-nos um sorriso nos lábios.  Ou deixa-nos com lágrimas no olhar, que é como quem diz, no coração.
O amor não usa disfarce.  Ou é ou não é.  O amor não mente.  Não magoa, não castiga. 
O amor não tem hora.  É urgente, sempre.  Ou está ou não está, sem meio termo.  Ou então não é amor, é uma coisa amorfa chamada interesse.
O amor nao se compra.  Vende-se, mas isso é uma outra historia.
O amor não tem dono.  É de todos, dos que o amam, dos que o guardam, dos que o negam, também.
O amor é agora.  E logo.  E amanhã, também.  Não tem fim.  O que acaba, por vezes, é o objecto do amor.