domingo, 24 de janeiro de 2016

A parte ingrata de envelhecer não são as rugas ou os cabeloa brancos.   Não é a flacidez ou as manchas na pele.  Não é a memória a pregar-nos partidas nem a vista a ir perdendo os detalhes que ontem se viam tão nítidos.  
A parte ingrata de envelhecer é a perda que vamos sentindo em cada dia que passa.   Dos amigos e familiares que nos deixam.  Dos lugares e dos objectos que marcaram o nosso percurso e que ficaram lá atrás. E dos nossos idolos, os que cresceram connosco, que coloriram o nosso tempo e nos habituaram a estar sempre lá e.que,  um destes dias,  desistiram de envelhecer.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Há pessoas que são ilhas.  Que vivem dentro de si próprias, sem ligação com outra coisa que nao seja o seu interior.  Rodeadas de água por todos os lados, de pouco lhes serve esse contacto.  Nao saem de si. 
Ha pessoas que são continentes.  Carregam em si a diversidade de ideias, de línguas e de crenças que abre a porta à tolerância e à partilha. 
Há pessoas que são mar.  Abraçam as outras generosamente, mas com desapego. como acontece às ondas do mar numa praia.
Ha pessoas que são o universo.  Nelas cabem todas as outras.  Têm um pouco de ilha, uma parte de continente, uns pedaços de mar.  Essas são as maus sábias, as mais felizes.  Essas são o farol que ilumina o caminho das restantes.  Um dia, quando eu crescer, vou querer ser assim...

Cresci no meio de mulheres.  Mãe, Avó,  irmãs, primas, amigas, professoras, bonecas e afins...  o único irmão,  o mais novo, ficou para sempre com cinco anos.  Cresci, casei e fui mãe de duas mulheres.  Outra vez o género.  O meu.  Outra vez as saias, os laços,  os penteados.  Outra vez cor-de-rosa.
Nao tenho nada contra o género masculino, que fique claro.  É o outro lado do espelho, penso mesmo que sem ele tudo ficaria incompleto.  Mas o mundo das mulheres é fantástico e insubstituível.  Para mim, pelo menos.  Nós choramos, sofremos, gritamos com dores,  temos caprichos, sonhos, sofremos desilusões, mas fazemos milagres de cada vez que somos mães.   E pela parte que me cabe, sem falsa modéstia,  sei que de todas as vidas que viver eu quero ser mulher.

E mesmo verdade!  Aí está um novo ano para desfrutar.  E desta vez com mais um dia do que o habitual.  Que ele seja leve.  Que dure o tempo certo.  Que traga sorrisos.   Que tenha abraços.   Algumas lágrimas,  se calhar.  Que tenha novidades.  E surpresas boas.  Que haja saúde e trabalho.  E muuto amor.  Sempre.  São os meus votos para 2016.

Hoje passei de novo naquela estrada.  Lembras-te?  O hotel ficava do lado direito, por trás de umas árvores altas, mais altas do que as que viviam na minha memória.   Passaram cinco anos entretanto, uma mão cheia de tempo.  
Não sei o que me fez virar o rosto, ao passar de carro.  O meu caminho era em frente e era para lá que eu deveria olhar.  E, de repente, lá estávamos outra vez os dois naquele quarto, pequeno em tamanho, enorme em emoções.  Fechei os olhos e senti a tua mão no meu cabelo, os teus labios nos meus ouvidos.  "Não me sais do pensamento", dizias sempre.  E, a seguir,  ouvia-te dizer como quem pensa em voz alta "desta vez vai ser para sempre...".  Mas não foi.  Nada é para sempre, lembras-te?  Nada mesmo...
Não sei quando foi que aconteceu mas saí do teu pensamento pouco tempo depois.  Da tua vida também.  Um dia escolhi outro rumo e todos os projectos que trazias dentro de ti ficaram por realizar.  Lembro-te muitas vezes, lembro-nos quase sempre.  O tempo que passámos juntos foi bastante para que ficassemos alojados dentro do meu coração.  
Nada é para sempre, tu sabes..  Só as memórias, se soubermos cuidar delas. Apenas isso, as memórias.  Estas e só estas é que poderão ficar para sempre.