sábado, 21 de fevereiro de 2015

Ele diz-lhe que a amou desde sempre.  Que nunca a esqueceu.  Que não passou um dia que não recordasse o seu sorriso.  O seu abraço.  Os momentos que tinham partilhado.
Ela acredita em tudo o que ouve.  Gosta do que ele diz.  E sabe que, no fundo, é verdade.  Ainda que a vida os tenha separado, apesar da distância, apesar do silêncio.
Ele casou-se com outra.  E foi com essa outra que plantou uma árvore, que criou raízes, que colheu os frutos.  Foi ao lado dela que viu os filhos crescer e os levou ao altar.  
Ela também se casou.  No mesmo ano que ele, a centenas de quilômetros de distância e sem saberem um do outro.  Viveram a experiência de serem pais quase em simultâneo.  Também sem saberem um do outro.  Levaram os filhos ao infantário e depois à escola ao mesmo tempo, acompanharam os primeiros passos, as primeiras letras.  À distância mas sempre ao mesmo tempo, como se a vida fosse um espelho e eles estivessem de cada um dos seus lados.  Longe, mas sempre dentro da memória um do outro.
Um destes dias reencontraram-se no lar onde ela vive há algum tempo.  Ele nem sabe o que o fez escolher aquele local, entre tantos outros que andou a ver.  De inicio, queria apenas uma casa sossegada, onde tivesse assistência e que ficasse perto da cidade.  Fazia questão de continuar a acompanhar os treinos de futebol do neto.  E contava com a visita dos amigos, também eles reformados, sempre que lhes fosse possível.  Acabou por ficar por ali, como se uma força inexplicável tivesse decidido por ele. 
Naquele dia, quando a viu sentada numa cadeira em frente à janela, voltou tudo à sua memoria.  Pareceu-lhe que ela estava na mesma, pelo menos aos seus olhos.  Ainda antes de se aproximar, já sentia a mão dela dentro da sua, como acontecia quando eram jovens e passeavam de mão dada.  Nesse tempo, o simples toque da sua pele era suficiente para lhe fazer acreditar que tinha o mundo nas mãos.  O seu mundo, que um dia desabou.
Ela olhou para ele e sorriu.  Como se o tivesse visto na véspera e em todos os outros dias. E, de facto, assim foi, mas apenas em pensamento.
Tornaram-se inseparáveis, sabiam que havia palavras que nunca iriam pronunciar mas isso deixou de ter qualquer importância, desde que estivessem juntos.  Os restantes utentes do lar, companheiros naquela viagem, achavam-lhes graça e eram cúmplices daquele amor tardio.  Sem planos nem promessas.  De repente, todo o tempo que os separou ficou reduzido ao ontem e o agora passou a ser todos os dias.

Dizem que o amor não tem idade.  Eu acredito!

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