Quando nasci estavas longe, a milhares de quilómetros de distancia, do outro lado do mar. Ainda assim, foste escolhida para seres a minha Madrinha de baptismo. Acompanhaste-me desde então, dizias sempre que te fazia lembrar a tua filha, que eu era uma das vossas. Anos mais tarde, já fui eu que te escolhi para minha Madrinha de casamento.
Um dia ligaste-me despois de jantar. Disseste-me que querias que eu soubesse por ti do que te estava a acontecer. Falaste da doença, da tosse que tinhas, do medo do que aí vinha. Fiquei sem ar e sem chão. Falei-te de esperança e de não desistires nunca. Estaríamos sempre contigo em pensamento, presencialmente sempre que tal fosse possível. Telefonava-te muitas vezes. Quando não atendias, queixava-me à Isabel. Sempre que podia ia ver-te, como aconteceu neste último sábado, ainda em tua casa. A conversar, com a tua mão na minha (que só me lembrava a da avo Maria)… Desde aí, tu teimas em nos fazer perceber o teu amor maior pela vida e nós vivemos suspensos de uma noticia que não queremos que chegue. Temos medo, sabes? Acordei algumas vezes a meio da noite a pensar no que te iria pela cabeça. O teu corpo estava preso nessa cama mas, tenho a certeza, o teu pensamento voava sem limite. Dizia para mim - não tenhas medo Gena, estaremos contigo de mão dada nesta viagem que vais fazer até ao além. Já lá estão tantos dos nossos, à tua espera… Mas não. Fico com a certeza que só foste porque não tinhas mesmo outro remédio. Que só partiste porque tinha mesmo de ser assim. Porque aquilo que tu gostavas mesmo era de estar aqui connosco, a rir, a conversar, a jogar cartas, a passear, a viver.. E isso, ninguém o fez como tu!
terça-feira, 15 de outubro de 2019
Gena
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