terça-feira, 15 de outubro de 2019

Gena

Quando nasci estavas longe, a milhares de quilómetros de distancia, do outro lado do mar.  Ainda assim, foste escolhida para seres a minha Madrinha de baptismo.  Acompanhaste-me desde então, dizias sempre que te fazia lembrar a tua filha, que eu era uma das vossas.  Anos mais tarde, já fui eu que te escolhi para minha Madrinha de casamento.  
Um dia ligaste-me despois de jantar.  Disseste-me que querias que eu soubesse por ti do que te estava a acontecer.  Falaste da doença, da tosse que tinhas, do medo do que aí vinha.  Fiquei sem ar e sem chão.  Falei-te de esperança e de não desistires nunca.  Estaríamos sempre contigo em pensamento, presencialmente sempre que tal fosse possível.  Telefonava-te muitas vezes.  Quando não atendias, queixava-me à Isabel.  Sempre que podia ia ver-te, como aconteceu neste último sábado, ainda em tua casa. A conversar, com a tua mão na minha (que só me lembrava a da avo Maria)… Desde aí, tu teimas em nos fazer perceber o teu amor maior pela vida e nós vivemos suspensos de uma noticia que não queremos que chegue.  Temos medo, sabes?  Acordei algumas vezes a meio da noite a pensar no que te iria pela cabeça.  O teu corpo estava preso nessa cama mas, tenho a certeza, o teu pensamento voava sem limite.  Dizia para mim - não tenhas medo Gena, estaremos contigo de mão dada nesta viagem que vais fazer até ao além.  Já lá estão tantos dos nossos, à tua espera…  Mas não.  Fico com a certeza que só foste porque não tinhas mesmo outro remédio.  Que só partiste porque tinha mesmo de ser assim.  Porque aquilo que tu gostavas mesmo era de estar aqui connosco, a rir, a conversar, a jogar cartas, a passear, a viver..  E isso, ninguém o fez como tu!