quinta-feira, 19 de março de 2020

Covid-19

Daqui por uns dias ou semanas, daqui por uns meses, talvez, vamos todos recordar-nos deste tempo e sentir que estamos a acordar de um pesadelo. Vamos olhar para o espelho e ver a nossa imagem reflectida sem ter a sombra do medo a emoldurá-la. Vamos poder voltar a sorrir sem angústia, matar a sede dos abraços, ou tocar nos objectos sem receio. Vamos ver gente na praia num dia de sol sem cobrar por isso. Vamos, também nós, poder estar lá. Sem medo, sem culpa, como sempre fizemos. Vamos ficar em casa porque queremos ou sair à rua livremente. Vamos beijar os filhos ou os pais, abraçar os amigos, cumprimentar os menos chegados com um aperto de mão forte e seguro Daqui a uns meses. vamos todos reunir-nos aqui na sala, numa outra casa ou no restaurante habitual, festejando o que quer que seja mas, de certeza, celebrando a vida e a saúde.
Daqui a uns dias, como ontem, como hoje, continuaremos a acordar com a certeza de que nada temos como garantido. E de que nada nos pertence. O nosso tempo de ócio, o nosso hobby, o passeio diário, a rotina das compras, o café na pastelaria por baixo do escritório. Nada é nosso, nada é certo, nem algo tão natural como um beijo ou como o simples acto de respirar livremente. Daqui por uns tempos (nenhum de nós sabe quanto...), vamos olhar para trás e contar uns aos outros a dificuldade que tivemos em enfrentar este retiro forçado e como conseguimos ajudar a combater este inimigo microscópico, que afinal é imensamente maior que nós.
Esta é a minha mensagem de esperança e de fé, apesar do medo, apesar desta imensa angústia.