Voltando à história, um dia essa menina viajou para o outro lado do mundo, deixou o verão do hemisfério sul e encontrou o frio que só conhecia dos livros e da caracterização dos climas. E o calor da casa dos avós que contrastava com o gelo lá fora. Que era igual ao gelo que habitava dentro do seu coração. E que não havia forma de derreter...
Entretanto o tempo foi passando e a menina conheceu uma outra escola, outros colegas e novos lugares. Aos poucos foi-se integrando e, quando se deu conta, já não estranhava o rigor do inverno que lhe tolhia os movimentos. E a imaginação. Apenas achava o país pequeno para tanta gente, para todos os que, como ela, tinham sido forçados a chegar. Um país que não se estava a adaptar, que não era elástico e que, tal como o frio, lhe tolhia a liberdade. Cedo percebeu que era mais fácil ser ela a mudar e a ficar do tamanho do país. Foi o que fez.
Era uma vez uma menina pequena que cresceu antes do tempo. Que aprendeu com a vida que não adianta fazer planos porque a vida é mesmo uma aventura. Que não vale a pena criar raízes muito fundas, porque em qualquer momento somos surpreendidos com mudanças que não podemos rejeitar. Que não devemos ser arrogantes porque a vida é uma aprendizagem e nunca sabemos tudo. Que devemos aceitar o imprevisto e tirar dele o melhor partido.
Era uma vez uma menina que não desistiu. Que aceitou o que a vida lhe deu e não se revoltou. Que aprendeu que melhor do que não cair é saber levantar-se do chão, sacudir a poeira e seguir em frente.
Era uma vez uma menina que ainda tem sonhos quando está acordada. E que acredita em finais felizes para as histórias.
Por vezes, quando me vejo ao espelho, julgo ver essa menina...
Muito bom Graça,adorei!
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