segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Era uma vez uma história.  Que começa, como todas as histórias, com um "era uma vez".  Nesta história, como em todas as outras, há gente lá dentro.  Nesta história vive uma menina que cresceu antes do tempo.  Quando nada o fazia prever, a vida dela mudou e a infância ficou lá atrás, num lugar chamado nunca mais.  A escola, as brincadeiras, os amigos e as gargalhadas passaram a ser recordações cada vez mais distantes, como numa fotografia que vai perdendo a cor com o passar do tempo.  Poucos objectos mantém dessa época.   E desses, alguns, por razões que não fazem parte desta história, deixaram de ter corpo e passaram para a categoria das recordações.  Sei que, mais tarde, quando falar às filhas da caixinha de música ou do quadro das borboletas, vai ter que puxar pela memória e pela imaginação...
Voltando à história, um dia essa menina viajou para o outro lado do mundo, deixou o verão do hemisfério sul e encontrou o frio que só conhecia dos livros e da caracterização dos climas.  E o calor da casa dos avós que contrastava com o gelo lá fora.  Que era igual ao gelo que habitava dentro do seu coração.  E que não havia forma de derreter... 
Entretanto o tempo foi passando e a menina conheceu uma outra escola, outros colegas e novos lugares.  Aos poucos foi-se integrando e, quando se deu conta, já não estranhava o rigor do inverno que lhe tolhia os movimentos.  E a imaginação.  Apenas achava o país pequeno para tanta gente, para todos os que, como ela, tinham sido forçados a chegar.  Um país que não se estava a adaptar, que não era elástico e que, tal como o frio, lhe tolhia a liberdade.  Cedo percebeu que era mais fácil ser ela a mudar e a ficar do tamanho do país.  Foi o que fez.  
Era uma vez uma menina pequena que cresceu antes do tempo.  Que aprendeu com a vida que não adianta fazer planos porque a vida é mesmo uma aventura.  Que não vale a pena criar raízes muito fundas, porque em qualquer momento somos surpreendidos com mudanças que não podemos rejeitar.  Que não devemos ser arrogantes porque a vida é uma aprendizagem e nunca sabemos tudo.    Que devemos aceitar o imprevisto e tirar dele o melhor partido.  
Era uma vez uma menina que não desistiu.  Que aceitou o que a vida lhe deu e não se revoltou.  Que aprendeu que melhor do que não cair é saber levantar-se do chão, sacudir a poeira e seguir em frente.  
Era uma vez uma menina que ainda tem sonhos quando está acordada.  E que acredita em finais felizes para as histórias.  
Por vezes, quando me vejo ao espelho, julgo ver essa menina...

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