segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Em pequena costumava brincar à beira mar com os meus irmãos.  Fazíamos castelos de areia, construíamos pontes, abríamos covas ou simplesmente rebolávamo-nos pelo chão, como se fossemos autênticos croquetes.  Lembro-me de saltarmos sobre as ondas que morriam aos nossos pés e de nos aventurarmos a tentar entrar um pouco mais no mar.  Depois, um pouco maiores, mergulhávamos e saíamos a correr das águas frias da Figueira da Foz ou perdíamo-nos no mar tépido do Algarve até as nossas mãos ficarem engelhadas e o corpo dormente.  A praia servia para tudo.  Comíamos, dormíamos, apanhávamos escaldões, contávamos anedotas, cantávamos ao som da viola de algum amigo.  As férias de verão eram praia, praia e praia e os amores mais doces começaram lá.
Anos depois, lembro-me de mim sentada à beira mar a vigiar as minhas filhas pequenas.  A brincar com elas com conchinhas e baldes coloridos.  A carregar sacos e bóias insufláveis e a espalhar protector solar nos seus corpos pequenos.  Ainda aí, a praia continuava a servir para tudo.  Era sinónimo de férias, de liberdade, de gargalhadas.  Também de birras e de canseiras, no regresso a casa com uma delas ao colo e a outra pela mão.  Mesmo assim, não trocava os dias de praia por nenhuns outros.
Hoje, é quase um luxo que me dou sempre que posso, aos fins-de-semana ou nas férias de verão que cada vez são menores.  A confusão das bolas e das pás foi substituída por livros e revistas, por música, por sossego.  Hoje, o céu e o mar são inteiros para mim sem interrupções.  Ainda hoje a praia continua a servir para tudo.  Para bronzear, para ler, para dormir, para namorar, para lavar a alma.  É um escape e um refúgio, ao mesmo tempo.  É o lugar onde nunca me canso de ir.  Para onde vou sempre que posso.  Mas agora, depois da imagem daquela criança morta, embalada pelas ondas, não sei se conseguirei voltar à praia sem ficar com o mar inteiro dentro dos meus olhos...

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