Em pequena costumava brincar à beira mar com os meus irmãos. Fazíamos castelos de areia, construíamos pontes, abríamos covas ou simplesmente rebolávamo-nos pelo chão, como se fossemos autênticos croquetes. Lembro-me de saltarmos sobre as ondas que morriam aos nossos pés e de nos aventurarmos a tentar entrar um pouco mais no mar. Depois, um pouco maiores, mergulhávamos e saíamos a correr das águas frias da Figueira da Foz ou perdíamo-nos no mar tépido do Algarve até as nossas mãos ficarem engelhadas e o corpo dormente. A praia servia para tudo. Comíamos, dormíamos, apanhávamos escaldões, contávamos anedotas, cantávamos ao som da viola de algum amigo. As férias de verão eram praia, praia e praia e os amores mais doces começaram lá.
Anos depois, lembro-me de mim sentada à beira mar a vigiar as minhas filhas pequenas. A brincar com elas com conchinhas e baldes coloridos. A carregar sacos e bóias insufláveis e a espalhar protector solar nos seus corpos pequenos. Ainda aí, a praia continuava a servir para tudo. Era sinónimo de férias, de liberdade, de gargalhadas. Também de birras e de canseiras, no regresso a casa com uma delas ao colo e a outra pela mão. Mesmo assim, não trocava os dias de praia por nenhuns outros.
Hoje, é quase um luxo que me dou sempre que posso, aos fins-de-semana ou nas férias de verão que cada vez são menores. A confusão das bolas e das pás foi substituída por livros e revistas, por música, por sossego. Hoje, o céu e o mar são inteiros para mim sem interrupções. Ainda hoje a praia continua a servir para tudo. Para bronzear, para ler, para dormir, para namorar, para lavar a alma. É um escape e um refúgio, ao mesmo tempo. É o lugar onde nunca me canso de ir. Para onde vou sempre que posso. Mas agora, depois da imagem daquela criança morta, embalada pelas ondas, não sei se conseguirei voltar à praia sem ficar com o mar inteiro dentro dos meus olhos...
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
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