quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Parei na beira do passeio, olhei e tu estavas na minha frente, do outro lado da rua. Tal como eu, esperavas que o sinal de peões abrisse, para a atravessares.
Pela segunda vez, o destino põe-nos em frente um do outro.  Esse pensamento fez-me sorrir com saudade.  Só por um instante. 
Sei que quando o sinal abrir, retomaremos o passo em direcção ao outro lado.
Desta vez, quando nos cruzarmos não nos abraçaremos como era habitual.  Desta vez encontramo-nos frente a frente, mas em lados opostos de um caminho que não é o mesmo.  Passarás por mim e não pararás.  Não me dirás que sou a tua vida e que queres fazer o resto do caminho comigo.  Nem me beijarás como se vivesses para isso.  Apenas para isso e para mim.  Estás ali, e eu também, somente para atravessar a rua para o outro lado.
Desta vez, cumprimentas-me cordialmente como se eu fosse apenas uma conhecida.  Mais uma.  Eu sou alguém que passou pela tua vida e não deixou marcas nem rastro.  Nem saudades.  Será que quando me vês te recordas de mim?  De como eras feliz por eu estar lá?  Do meu cabelo?  Do meu perfume no teu quarto depois de eu sair?  Das minhas roupas na tua cama?  Das conversas antes de adormecer?  Das mensagens a meio da noite, quando um de nós acordava com saudades do outro?  De como te lia os pensamentos?  Do meu olhar?  De mim?
Sei que não foste tu quem nos colocou em lados opostos da estrada - sei, também, que se fosse por ti, eu ainda estaria desse lado a atravessá-la ao teu ritmo, dentro da tua mão.
Foi antes a vida, foram as escolhas que fizemos muito antes de tudo terminar.  Porque é muito antes de chegarmos à beira do passeio que começamos a atravessar a estrada. 
E, no nosso caso, algo fez com que não chegássemos lá ao mesmo tempo.

Sem comentários:

Enviar um comentário