sábado, 7 de março de 2015

Se pudesse escolher, eu preferia não ter crescido.  Ter ficado para sempre pequena.  Ter os irmãos e os amigos todos do meu tamanho.  Brincar às escondidas no jardim, andar de bicicleta e saltar ao eixo ou jogar à macaca na escola.  Achar a minha casa enorme, dividir o quarto com o meu irmão.  Olhar para os pais e achá-los invencíveis.  Eram os meus heróis.  Ter respostas para as perguntas que fazia.  Ter tempo.  E livros e música por companhia.  Viver num mundo feito de sonhos.  Pensar que todos eram felizes. Olhar em redor e encontrar apenas pessoas vivas.  Morte?  Doença?  Infelicidade?  Dor?  Isso eram apenas jogos de letras que tinham sido criados para rimar com outras palavras.  O mesmo acontecia com pobreza, fome e solidão.
Não pude escolher e cresci.  Os irmãos estão longe e os amigos têm tamanhos diversos.  Cada um seguiu o seu próprio caminho.  Os pais são apenas gente que luta para sobreviver, tal como eu.  Isto por vezes é difícil, mas também nunca me prometeram que era fácil.  Há muito que passei a ser eu a minha heroína.  Ao meu lado tenho já alguns mortos que vivem comigo.  E algumas perguntas sem resposta.  O tempo que vou tendo é já pouco, mas a musica e os livros continuam sempre por perto.  E no meu mundo ainda existem muitos sonhos por estrear.
Sei que um dia vou parar de crescer.  Encontrarei aí as respostas que ainda procuro?

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