Se pudesse escolher, eu preferia não ter crescido. Ter ficado para sempre pequena. Ter os irmãos e os amigos todos do meu tamanho. Brincar às escondidas no jardim, andar de bicicleta e saltar ao eixo ou jogar à macaca na escola. Achar a minha casa enorme, dividir o quarto com o meu irmão. Olhar para os pais e achá-los invencíveis. Eram os meus heróis. Ter respostas para as perguntas que fazia. Ter tempo. E livros e música por companhia. Viver num mundo feito de sonhos. Pensar que todos eram felizes. Olhar em redor e encontrar apenas pessoas vivas. Morte? Doença? Infelicidade? Dor? Isso eram apenas jogos de letras que tinham sido criados para rimar com outras palavras. O mesmo acontecia com pobreza, fome e solidão.
Não pude escolher e cresci. Os irmãos estão longe e os amigos têm tamanhos diversos. Cada um seguiu o seu próprio caminho. Os pais são apenas gente que luta para sobreviver, tal como eu. Isto por vezes é difícil, mas também nunca me prometeram que era fácil. Há muito que passei a ser eu a minha heroína. Ao meu lado tenho já alguns mortos que vivem comigo. E algumas perguntas sem resposta. O tempo que vou tendo é já pouco, mas a musica e os livros continuam sempre por perto. E no meu mundo ainda existem muitos sonhos por estrear.
Sei que um dia vou parar de crescer. Encontrarei aí as respostas que ainda procuro?
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