Não percebi! Dizias que me amavas, que não te saía do pensamento, que era tudo para ti e depois isto? Dizias que só querias dar-me a mão e guardar-me no teu bolso para toda a eternidade e agora isto? Na tua imaginação íamos ficar juntos para sempre, para muito além desse sempre que não tem fim, e então? Na tua boca o caminho nos próximos anos seria feito lado a lado, a minha mão dentro da tua, o meu coração colado ao teu, e...?
Olhaste para o lado e, num momento, tudo mudou. Deixei de ser o teu ideal de mulher, fiquei reduzida a cinzas, abriste as mãos e deixaste-me ir... e ainda te vejo a sacudi-las para limpar restos que pudessem ter ficado nelas.
A partir daí e durante muito tempo eu nem consegui voltar a mim. Fiquei atordoada, como num pesadelo, como dentro de um vulcão adormecido. Deixei de sentir-me, fiquei com o corpo cansado, com a alma dormente. A partir daí e para o resto da vida, fiquei descrente, insegura e triste, imensamente triste.
Cada noite era um pesadelo porque o sono tardava a chegar e, quando finalmente adormecia, era sempre contigo que ocupava os meus sonhos. Contigo e com o quase futuro que íamos ter. Pela manhã, cansada, continuava a ter por companhia a tua imagem, que dançava à minha frente sem cessar. Era a tua voz que eu ouvia noutras vozes. E o teu olhar quando, por acaso, pousava os meus olhos em outros que encontrava no caminho. Foste a minha alegria, o meu vício, o ar que eu respirava. És as minhas lágrimas, a minha dor...
Um dia perceberei que já não estou doente. Nesse dia, ainda não estarei curada mas a tua presença já não me fará falta. Tanta falta... e então, quando acordar, já não será em ti que eu pensarei, será comigo que eu acordarei no pensamento. Comigo e com o lugar vazio que tu ocupavas dentro de mim e que então me pertencerá por inteiro. Nele caberá a memória do que tivemos juntos, as lágrimas que me fizeste chorar, a saudade que me fazes ainda agora sentir.
Um dia sei que conseguirei suportar melhor o que aconteceu. Um dia, que ainda não é hoje...
O que não conseguirei nunca entender é como é que tu, tão pequeno, conseguiste ocupar um espaço imenso dentro de mim e fazer-me crer que eras a minha vida e o meu amor. E eu deixei! Não percebo!
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