quarta-feira, 30 de julho de 2014

Vou-te contar uma história.   A de uma menina que nunca tinha estado sozinha.  Não fisicamente, não é essa a solidão que refiro.  Esse estar sozinho, sem gente por perto, é um estado transversal a muitos de nós.  Numa ou noutra altura da vida encontramo-nos só connosco sem um ombro amigo por perto, pelo menos no horizonte que alcançamos com o olhar.  Esse estar sozinho, sem outra voz que não os nossos pensamentos, é a casa de muita gente. 
A solidão da menina desta história tem mais a ver com ela própria.  Com a insegurança que a acompanha agora, com o desconhecido, com o medo. Com a curiosidade, também.  E com a coragem que ela transmite aos outros, mas que ainda não encontrou para si.
Durante muito tempo essa menina julgou-se segura.  Não que fosse superior aos outros, nada disso, apenas sentia que flutuava acima do chão, que não era atingida por nada que a perturbasse.  E de facto não era.  As contrariedades que a vida de vez em quando lhe dava, embrulhava em algodão com o formato de nuvens que a ajudavam a manter-se acima do chão.  E a flutuar sem precisar de ter asas.  De todas as vezes que a tristeza apertava procurava a companhia de um livro, de uma música, a voz de um amigo.  E ficava bem outra vez.  Nada era mais importante que a harmonia na sua vida.  Mais do que o ar que respirava.  
Até um dia em que tudo aconteceu ao contrário.   O sol amanheceu do lado do poente.  Ela não sabe porquê mas saiu pelo outro lado da cama.  E o seu mundo ficou, de repente, virado de pernas para o ar...

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