Estava sozinha naquela esplanada em frente ao mar. A sua única companhia era um livro que tinha comprado na véspera e em cuja leitura se tentava concentrar. Em vão. Os seus pensamentos corriam à velocidade da luz e ela tentava acompanhá-los, sem conseguir. Não era bem isto que queria para si. Naquele momento só conseguia pensar isso. Todo o esforço feito, todos os sonhos, todas as horas passadas a preparar a viagem estavam agora reduzidos a nada. Tudo foi demais, parece-lhe agora, nada foi suficiente, constata. Todas as frases começam e acabam ali - não era isto que queria para si, não eram estes dias que tinha em mente quando aceitou aquele projecto. Sempre fez, na vida, o que quis. Sempre teve a sorte de poder decidir o seu destino. Aprendeu sozinha que voltar para trás é, em alguns casos, dar um passo em frente. Agora estava ali, livro na mão, o olhar perdido naquele mar imenso e o pensamento, inquieto, ia e vinha, sem sair daquela frase - não era esta a vida que queria estar a viver. Que fazer? Encontrava-se num beco sem saída, a milhares de quilómetros de casa, dos seus quadros, dos seus livros, dos seus amores. Das suas rotinas, também. E sentia-lhes a falta, apesar de sempre dizer que não era mulher de criar raízes. Apesar de sempre achar que aquecer lugares não era para si. Agora e por isso, ela sabia que tem de mudar. O seu coração já não estava ali, faltava só ter vontade de se levantar e de o acompanhar. Ela acredita que o final do caminho acontece quando quiser, quando sentir que não adianta dar mais passos em frente. Porque o destino é feito todos os dias e nem sempre as decisões que tomámos anteriormente se encaixam nele. E, também, porque não é justo sermos vítimas das nossas próprias escolhas.
E naquele momento, Maria fez uma escolha. Pousou lentamente o livro em cima da mesa, acabou o sumo de laranja que ainda restava no copo e levantou-se. Sabia que estava certa, porque era livre para escolher. E só podia ser assim! O que tinha de fazer era meter de novo a sua vida dentro de uma mala e seguir o caminho que a levava em direcção ao futuro. Lá, onde quer que fosse, haveria sempre um mar imenso à sua espera quando fosse tempo de reflectir...
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