sexta-feira, 13 de junho de 2014

Estava sozinha naquela esplanada em frente ao mar.  A sua única companhia era um livro que tinha comprado na véspera e em cuja leitura se tentava concentrar.  Em vão.  Os seus pensamentos corriam à velocidade da luz e ela tentava acompanhá-los, sem conseguir.  Não era bem isto que queria para si.  Naquele momento só conseguia pensar isso.  Todo o esforço feito, todos os sonhos, todas as horas passadas a preparar a viagem estavam agora reduzidos a nada.  Tudo foi demais, parece-lhe agora, nada foi suficiente, constata.  Todas as frases começam e acabam ali - não era isto que queria para si, não eram estes dias que tinha em mente quando aceitou aquele projecto.  Sempre fez, na vida, o que quis.  Sempre teve a sorte de poder decidir o seu destino.  Aprendeu sozinha que voltar para trás é, em alguns casos, dar um passo em frente.  Agora estava ali, livro na mão, o olhar perdido naquele mar imenso e o pensamento, inquieto, ia e vinha, sem sair daquela frase - não era esta a vida que queria estar a viver.   Que fazer? Encontrava-se num beco sem saída, a milhares de quilómetros de casa, dos seus quadros, dos seus livros, dos seus amores.  Das suas rotinas, também.  E sentia-lhes a falta, apesar de sempre dizer que não era mulher de criar raízes.  Apesar de sempre achar que aquecer lugares não era para si. Agora e por isso, ela sabia que tem de mudar.  O seu coração já não estava ali, faltava só ter vontade de se levantar e de o acompanhar.  Ela acredita que o final do caminho acontece quando quiser,  quando sentir que não adianta dar mais passos em frente.  Porque o destino é feito todos os dias e nem sempre as decisões que tomámos anteriormente se encaixam nele.  E, também, porque não é justo sermos vítimas das nossas próprias escolhas.
E naquele momento, Maria fez uma escolha.  Pousou lentamente o livro em cima da mesa, acabou o sumo de laranja que ainda restava no copo e levantou-se.  Sabia que estava certa, porque era livre para escolher.  E só podia ser assim!  O que tinha de fazer era meter de novo a sua vida dentro de uma mala e seguir o caminho que a levava em direcção ao futuro.  Lá, onde quer que fosse, haveria sempre um mar imenso à sua espera quando fosse tempo de reflectir...

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