domingo, 15 de junho de 2014

E se eu morresse hoje?  Se estes momentos em que escrevo fossem os últimos que tenho para viver?  Se, de repente, o sangue deixasse de circular nas minhas veias e o meu corpo fosse ficando frio, despedindo-se lentamente da vida?  Saindo daqui, de onde gosto tanto de estar e partindo sei lá para onde... Será que os que cá ficam saberiam acabar o que estou a deixar a meio?  Teriam tempo para isso?  Levariam até ao fim aquilo que estou a fazer agora ou apagariam estas letras e deixá-las-iam para sempre inúteis, como se nunca tivessem existido? Arrumariam as coisas que deixei para fazer amanhã, no seu devido lugar? Dividiriam os objectos e as memórias entre si?  E depois?  Seguiriam a vida deles como se eu continuasse a estar aqui, à distância de um telefonema?  Continuariam a lembrar-me de cada vez que a lua aparecesse elegante e sóbria, em quarto crescente, como eu gosto de a ver?   E de cada vez que chovesse no verão?  Recordariam como o mar me ajuda sempre a pensar melhor, a pôr as ideias em ordem?  E os sentimentos no lugar?  De como eu prefiro as margaridas às rosas?  O calor ao frio que me paralisa a circulação?  Guardariam na memória o desconforto que sinto no meio do ruído e da confusão?  A minha obsessão pela justiça?  Pelo diálogo?  Pela harmonia?  Em como não suporto desperdiçar o meu tempo?  E o deles?  Que é precioso, mesmo quando parece não fazermos nada? Continuariam a zelar pela sua saúde como se fosse eu a fazê-lo?  E a alimentar-se com cuidado?  Lembrar-se-iam de como tudo isto é frágil demais para perdermos tempo com o que não nos faz bem?  Com o tabaco?  Com o álcool?  Com o stress?  Com os amores que nos partem o coração?  Com os amigos que não o são?  E não nos merecem?  Continuariam a sentir o orgulho que eu tenho neles?  Por se terem transformado nas pessoas que são?  E que me deslumbram sempre?  Continuariam juntos e a apoiar-se mutuamente?  Como agora? Para que eu continue a sentir que tudo isto valeu a pena?  Que faria tudo igual, outra vez?  E, por ultimo, será que algum deles, no intervalo do choro (no intervalo do choque), pararia para pensar em como eu me sinto sozinha e desamparada, do  lado de lá da vida, sem a pele deles para tocar?

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