quinta-feira, 17 de abril de 2014

A vida tem-me mostrado que quando vamos fazer uma viagem, por mais pequena que seja, nos damos tempo de fazer a mala e de organizar o que deixamos para trás.  No regresso, dentro da mala, trazemos recordações da viagem, prendas para os que ficaram em casa e, na maioria das vezes, roupa suja para lavar.  Retomamos o nosso quotidiano, arrumamos a mala no seu lugar até à próxima viagem e seguimos com os assuntos que deixámos pendentes e que nos preenchem os dias. Parece simples...  
Mas a vida  também me tem revelado que quando morremos, na maioria das vezes, não temos oportunidade de escolher o que levamos, nem de arrumar o que fica para trás.  Nessa altura, vestem-nos com o que está mais à mão, quase nunca ao nosso gosto e, depois de termos partido, começa a longa viagem dos que cá ficam pelo interior das nossas gavetas, dos nossos armários, da nossa alma...  há mesmo pessoas que só nos ficam a conhecer nessa altura, que ficam surpreendidas, que ficam desiludidas, que ficam...
Não me parece justo.  O imprevisto, o inesperado, o desaparecimento do chão debaixo dos nossos pés.  E também o peso que deixamos nos ombros de quem tem a ingrata tarefa de nos arrumar, a nós e ao nosso quotidiano, num arquivo morto sem ordem nem classificação.

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