quinta-feira, 17 de abril de 2014

A rua onde moro é uma rua sem saída.  Acaba no portão de uma antiga quinta que teima em resistir ao progresso.  Tem prédios novos que se misturam com casas antigas, quem sabe do tempo em que naquela quinta havia vida.  
A rua onde moro começa num arco debaixo de dois prédios.  Logo à entrada tem um fotógrafo e um salão de cabeleireiro.  Pequeno, de bairro.  Tão pequeno que vive lá a cidade inteira.  Acredito mesmo que se lá passasse uma manhã, ficaria a saber da vida de quase todos os habitantes.
Tem ainda uma mercearia e um café.  E casas, muitas casas onde moram vidas que se cruzam com a minha todos os dias.  Que me sorriem e cumprimentam quando me veem.  E que, depois, seguem o caminho delas e eu o meu.
Não tem saída, a rua onde moro.  Para sair dali tenho que dar a volta e voltar para trás.  Como na vida, por vezes.  Quando me deparo com um muro e não consigo atravessá-lo.  Quando concluo que o caminho que faço estreita lá à frente e acabará por me sufocar.  Quando percebo que há outras opções mais felizes, um pouco mais ao lado.  E que essas, sim, são ruas com entrada e com saída e onde dá gosto viver.
Não tem saída, a rua que tem a casa onde moro.  Mas não me limita, por isso.  E no fim do dia, quando é hora do regresso, sinto que me acolhe junto com o resto do mundo que também mora na minha rua sem saída.

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