segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Rua do Ouro, Lisboa, seis da tarde de um sábado de inverno.  Vindo do rio, subia um nevoeiro que aos poucos ia ocupando todos os lugares vazios que encontrava.  As iluminações de Natal, agora apagadas, aguardavam que as retirassem até ao próximo outono.  Nas montras das lojas as palavras "saldos" e "promoções" faziam os transeuntes abrandar o passo - "Será que é desta que vou conseguir comprar o sobretudo?", "...as botas pretas", ou qualquer outra peça que se guardou até agora.  À porta dos restaurantes, os empregados tentavam atrair-lhe a atenção para as ementas deliciosas que exibiam.  As esplanadas, confortáveis com o aquecimento a gás, estavam vazias.  Tinham deixado o carro no parque e ia, ela dentro da mão dele, observando tudo o que a rodeava e pensando em como é bela a baixa pombalina.  Os cheiros, as luzes, as esquinas delineadas dos prédios, as janelas estudadas para serem iguais, os telhados salientes, como tudo é encantador.  Numa das esquinas, um rapaz com o seu saxofone, tocava "body and soul".  Para ela, apenas.  Porque só ela parou para o escutar, todos os restantes seguiam fechados em si próprios, surdos e infelizes... E ela achou a cidade mais bonita ainda, agora que a via cheia de luz e de música.  E nem lhe faltaram as decorações apagadas de um Natal já passado no calendário dos dias, que há-de voltar, mais tarde ou mais cedo.  Dentro das mãos dele, e só por isso, tudo fica mágico e completo.  E ela quis guardar para sempre aquele momento como se estivesse dentro de uma fotografia.  E conseguiu!

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