sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

É mesmo estranha esta coisa de gostar.  Estranha e perigosa, porque se entranha na nossa pele e nos vicia.  Deixa-nos cativos, presos para sempre e ocupa toda a nossa vida, desde que a conhecemos.  
Os primeiros amores que temos são os nossos pais.  Estamos cá por causa deles, não vivíamos sem eles.  Depois chegam os irmãos e os primeiros amigos da escola, que crescem connosco e nos ensinam a gostar de crescer.  Mais tarde, na adolescência, gostamos de um outro amor que desperta em nós aquelas emoções que só sabíamos dos livros e dos filmes.  E que se tornam subitamente uma adição.  E que passam a ser inesquecíveis.  Porque vivemos para elas e por causa delas.  A partir daí a nossa vida faz-se de gostar.  Só de gostar.  Esse amor, que chamamos de "primeiro amor", destrona todos os outros de repente, sem avisar, e ocupa-nos por inteiro.  
Nada mais é igual.  Nada mais terá o mesmo sabor, a partir daí.  O caminho para a escola, igual ao já feito centenas de vezes, é novidade na companhia dele.  Dentro da mão dele descobrimos que a nossa pele também se habitua a gostar.  E que já não sabe mais viver sem isso.  Dentro do abraço dele entendemos a razão porque gostamos do silencio, porque as musicas românticas nos tocam, porque precisamos da boca dele para completar o nosso pensamento.  A vida passa a ser gostosa, gostamos de ser viciados nisso.  Até um dia.  
Um dia ele vai - ou ela - e fica apenas essa coisa vazia que é gostar.  Que tentamos encher com tudo o que nos aparece pela frente, até fechamos os olhos e deixamos de pensar, mas acontece como com as bolas de sabão, rebentam ao toque.  Nada mais é igual, outra vez.  Só essa mania teimosa de gostar, que não nos deixa.  E as lembranças que gostamos de manter vivas cá dentro.  Estranha coisa essa de gostar.  
Por vezes penso "morro se parar de respirar durante um tempo?", por vezes tenho a certeza que não viverei mais se apenas parar de gostar.  Há quem goste tanto dos outros que se esquece de gostar de si e fica só quando eles partem, há quem goste tanto de si mesmo que nem repara que já está só há muito tempo.  Eu gosto, gostei sempre e nem imagino a minha vida sem isso.  Se bem que por vezes não é fácil viver com esse sentimento.  Ou sem ele.
Mesmo irónica essa coisa de gostar.   Mas viciante, não tenho dúvidas...

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