terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Eram as últimas horas daquele ano e, como sempre lhe acontecia, deu por si a rever em pensamento os dias para trás, como se fosse possível rebobinar o tempo e voltar a vivê-lo...
Neste ano que agora estava perto do fim aconteceu-lhe tanta coisa... Deu uma nova oportunidade ao amor e fez disso o resto da sua vida!  Viveu momentos impensáveis, encontrou pessoas fantásticas, sorriu tantas vezes (chorou algumas, também), ouviu músicas novas, conheceu histórias que a maravilharam, enfim, chegou à conclusão que o tempo foi pouco demais para tanto... e sentiu-se abençoada por todas estas experiências.  
Nem tudo foi fácil.  Melhor, nem tudo pareceu que ia ser fácil.  A perda do emprego, curiosamente no dia do trabalhador - que ironia! - pareceu-lhe ser o fim do mundo.  Ou muito perto disso.  Pelo menos do mundo em que tinha vivido até ali.  Para quem sempre fora independente, para quem estava habituada a nunca ter de pedir licença, a sempre ter autonomia, foi um golpe muito baixo - logo ela que sempre trabalhou desde muito cedo, que a última vez que recebeu mesada dos pais tinha sido aos dezoito anos... logo ela que sempre dizia que "ter trabalho é uma bênção" e que dedicara os últimos vinte anos da sua vida àquela empresa, que ajudou a crescer e que considerava a sua segunda casa...  Agora, oito meses depois, admira a serenidade que teve na resolução de todo o processo.  Ouviu conselhos, opiniões, sonhou com tudo aquilo algumas noites, mas não se queixou.  Percebeu, desde o início, que era assim que tinha que ser e que algo de muito melhor estaria para vir.  Porque ela sabe que nada nos acontece por acaso...  
A oportunidade que deu a si própria de estar mais com os outros, de se dar mais aos outros, foi uma das coisas boas que lhe trouxe o desemprego.  Passou a ter mais tempo livre sem nunca ter estado desocupada.  E isso foi fantástico.  Porque a ajudou a viver dias cheios de emoções, porque a fez perceber - mais ainda! - que só tem motivos para se sentir feliz.  A experiência do  voluntariado em saúde e com a terceira idade foi das melhores coisas que lhe aconteceu e sente-o como um compromisso para a vida.  Que irá retomar logo que possível, já prometeu a si própria!
Os dias disponíveis para viajar, a qualquer hora e para qualquer local, também foram um presente do desemprego.  Foi o lado bom de não ter obrigações e compromissos.  Que ela aproveitou até ao fim!  Porque ela também sabe que não há nada pior do que desperdiçarmos o nosso tempo.  E que a vida é única e insubstituível e que é muito bom estarmos ao lado de quem amamos.  Porque ela sente que já lhe vai saber a pouco...
Por alturas do final do verão percebeu, uma vez mais, que morrer é apenas deixar de ser visto.  A morte de alguém muito querido e muito próximo veio entristecer-lhe todos os dias durante muito tempo.  Porque ela sentiu que nunca mais nada ia voltar a ser como dantes.  E, de novo, ela percebeu que a morte é um desperdício e que não serve para nada.  Nem para passarmos para o outro lado (como ele diz) porque é deste lado que os nossos amores estão e a vida é para ser vivida em conjunto...  E ela sabe, ainda, que estamos aqui para ser felizes, apenas e só para ser felizes...
Finalmente chegou o mês do Natal.  Como sempre, um mês cheio de prendas, de sorrisos, de luzes, de encanto.  Para ela foram trinta dias de viagens, de conversas, de acordos.  De boas-vindas, também.  E de despedidas, também teve de ser.  Porque não podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo, caso contrário ela teria evitado essa parte...
Foi um ano com muitos dias completos.  Enviou muitos cv's, foi a algumas reuniões, encontrou-se com pessoas que só conhecia de nome, desenganou-se com algumas outras que achava que a iriam ajudar.  Porque lho tinham prometido e, afinal, não foram capazes.  Mas valeu tudo a pena, não deu nenhum dia como perdido.
Agora está aqui,  a pensar em todo este conjunto de emoções e de acontecimentos e a achar que mais uma vez, como aconteceu em outros anos impares, este foi um grande ano.  Que a fez crescer.  Que a fez valorizar a vida, ainda mais.  Foi, de facto, um ano ímpar!
E, sorri para si própria, quando pensa nas imensas coisas que não teve tempo de fazer, nos passeios que vai ter de adiar, nas visitas que não chegaram a acontecer.  E na sorte que teve em não ter sentido tédio ou solidão, como no início receou...
Promessa de ano novo?  
- continuar a ser feliz, naturalmente, só pode!



1 comentário:

  1. Vieram-me as lágrimas aos olhos. Obrigada, Graça! És uma dádiva...

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