Amar dá trabalho. Encontrar alguém que achamos parecido connosco, deixá-lo entrar no nosso coração, decidir fazer o caminho na sua companhia até pode parecer fácil, mas viver com essa decisão o resto dos nossos dias é algo que só se consegue com muito esforço.
No início todos os amores parecem simples. O encantamento da descoberta, da novidade, os carinhos, o "faço tudo por ti", o "és tudo para mim", tudo é simples e imediato, tudo sai da boca mesmo antes de passar pelo coração. Não há nenhuma tabela para medir os sentimentos, uns mais contidos e discretos, outros mais intensos, mas todos fazem nascer asas nos pés dos amantes e os deixam a voar por aí.
Nessa altura todos os projectos em comum são possíveis. Aliás, nessa altura, a palavra impossível ainda não mora no pensamento de nenhum deles, ainda faz parte do desconhecido. É o tempo das promessas, dos projectos, do "para sempre". É o tempo de esquecer o resto do mundo e viver apenas para esse amor, deixar para trás toda a vida e ficar sempre assim, junto dele, mão na mão. É o tempo em que cuidar dele deve ser o principio e o fim de tudo. Dar-lhe raízes para que se fixe e se sinta seguro, para que nunca lhe seja fácil partir. Para que ir embora nunca seja opção. E dar-lhe também asas para que se sinta livre. Porque estar preso não é bom, nenhum amor merece isso. Nós, os que cuidamos dele, também não queremos essa sensação. Queremos estar livres para amar, para sermos um só, sendo sempre dois.
Amar dá trabalho. Faz-nos bem, enche-nos a alma de alegria e de luz, mas dá muito trabalho. E só quem se empenha a sério nesse projecto que é cuidar de um amor dia após dia é que o chega a conhecer.
Amar dá trabalho. E alegria, também. Muita alegria.
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