Diário de uma Voluntária 19/11/2013
Morre-se de tristeza? Morre-se de doença, de acidente, de velhice, de tédio, de amor, mas... de tristeza? De desalento? De mágoa? Acredito que sim. Não aquele morrer físico de sentir o sangue deixar de correr nas veias ou as células pararem de emitir vida, mas um morrer na alma, um "não quero saber" que nos deixa amorfos para sempre. A vida até pode continuar, os dias podem seguir-se uns aos outros, podemos até continuar a respirar, a comer, a dormir, mas estamos ausentes para sempre, como se já não estivéssemos cá. É como está esta mulher, mãe de quatro filhos, que passou fome para lhes alimentar os dias, que deixou de dormir para velar os seus sonos e que, agora, se encontra sozinha, sem telefonemas, sem visitas, sem nada que a faça entender o significado da palavra família. Contou-me tudo de uma só vez, esta manhã, quando me sentei perto dela e lhe interrompi a solidão. O único filho que lhe dava algum amor morreu há já alguns anos, subitamente traído pelo coração. Os outros três, duas raparigas e um rapaz, seguem a sua vida lá fora como se ela não existisse. O amor filial, o respeito, o cuidado que deveriam sentir por aquela mãe que lhes deu a vida, não tem qualquer significado para eles, É como se nem soubessem da sua existência. Como quem morreu há muito tempo atrás, mesmo antes dos seus nascimentos e eles nunca tivessem estado no seu colo, ouvido a sua voz, chorado no seu ombro... Acredito que, nesse caso, a memória da mãe seria terna e lamentariam a sua ausência precoce. Nesta história, estes filhos nem sabem onde a mãe está, como sobrevive a esta tristeza, como ocupa as suas horas, quantas vezes enxuga as lágrimas. Fiquei triste com ela. Solidariamente, tinha mesmo que ser. Não sei que motivos levaram a este corte de relações, mas penso que a fragilidade da velhice não poderá nunca ser desprezada. Já me ouvi dizer muitas vezes que a família não se escolhe, é verdade, escolhemos os amigos, os namorados, os maridos - a família é o que nos calha e com quem temos de aprender a viver. Nem sempre sentimos da mesma forma, muitas vezes até vemos a nossa família valorizar mais os de fora do que os da casa, mas nada justifica abandonar uma mãe, velha e doente. Fiquei triste por ela. Por eles também, que não entendem que o que importa mesmo são os afectos. E lembrei de novo aquela capa de jornal de um destes dias que alertava para que, muitas vezes, a violência sobre idosos era feita por familiares. Em nome de quê???
Morre-se de tristeza? Morre-se de doença, de acidente, de velhice, de tédio, de amor, mas... de tristeza? De desalento? De mágoa? Acredito que sim. Não aquele morrer físico de sentir o sangue deixar de correr nas veias ou as células pararem de emitir vida, mas um morrer na alma, um "não quero saber" que nos deixa amorfos para sempre. A vida até pode continuar, os dias podem seguir-se uns aos outros, podemos até continuar a respirar, a comer, a dormir, mas estamos ausentes para sempre, como se já não estivéssemos cá. É como está esta mulher, mãe de quatro filhos, que passou fome para lhes alimentar os dias, que deixou de dormir para velar os seus sonos e que, agora, se encontra sozinha, sem telefonemas, sem visitas, sem nada que a faça entender o significado da palavra família. Contou-me tudo de uma só vez, esta manhã, quando me sentei perto dela e lhe interrompi a solidão. O único filho que lhe dava algum amor morreu há já alguns anos, subitamente traído pelo coração. Os outros três, duas raparigas e um rapaz, seguem a sua vida lá fora como se ela não existisse. O amor filial, o respeito, o cuidado que deveriam sentir por aquela mãe que lhes deu a vida, não tem qualquer significado para eles, É como se nem soubessem da sua existência. Como quem morreu há muito tempo atrás, mesmo antes dos seus nascimentos e eles nunca tivessem estado no seu colo, ouvido a sua voz, chorado no seu ombro... Acredito que, nesse caso, a memória da mãe seria terna e lamentariam a sua ausência precoce. Nesta história, estes filhos nem sabem onde a mãe está, como sobrevive a esta tristeza, como ocupa as suas horas, quantas vezes enxuga as lágrimas. Fiquei triste com ela. Solidariamente, tinha mesmo que ser. Não sei que motivos levaram a este corte de relações, mas penso que a fragilidade da velhice não poderá nunca ser desprezada. Já me ouvi dizer muitas vezes que a família não se escolhe, é verdade, escolhemos os amigos, os namorados, os maridos - a família é o que nos calha e com quem temos de aprender a viver. Nem sempre sentimos da mesma forma, muitas vezes até vemos a nossa família valorizar mais os de fora do que os da casa, mas nada justifica abandonar uma mãe, velha e doente. Fiquei triste por ela. Por eles também, que não entendem que o que importa mesmo são os afectos. E lembrei de novo aquela capa de jornal de um destes dias que alertava para que, muitas vezes, a violência sobre idosos era feita por familiares. Em nome de quê???
Sem comentários:
Enviar um comentário