quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Diário de uma Voluntária 28/11/2013

Não há nada pior que o medo.  Não há sentimento mais redutor, que nos prenda os movimentos e nos bloqueie a imaginação.  
Ele começou devagar a contar-me os seus receios.  A insegurança que sente desde que deu aquela queda no mês passado que lhe deixou sequelas até hoje.  Para sempre, se calhar, penso eu.  Estarei certa? Tomara que não... 
Diz-me que o desporto fez sempre parte dos seus dias.  Quando era jovem participou em provas de atletismo, na escola.  Depois da tropa e por brincadeira, chegou a atravessar a ponte sobre o Tejo, quando havia maratonas.   Uma vez, fez da promessa do cunhado sua, e foi com ele a Fátima a pé.  Não fossem as forças faltar-lhe a meio do caminho... As coisas ficam mais fáceis se feitas a dois, não acha?  Claro que sim, digo eu que sempre fiz quase tudo sozinha...
A sua profissão de motorista de taxi forçava-o a muitas horas sentado e, aos poucos, o exercício físico  foi ficando para trás por falta de tempo, de vontade, sei lá mais porquê... A verdade é que começou a engordar, a comer mais e pior, a beber álcool e, um dia, o coração, que não é de ferro, ressentiu-se.   A história já vem de trás, na sua família havia alguns casos de doenças de coração, de mortes por enfarte, mas ele pensava que isso nunca chegaria até si.
Começou esta semana os exercícios de fisioterapia. O que mais o entusiasmou foi andar num tapete, apoiado em barras paralelas.  Deu uns passitos curtos, depois mais atrevidos e logo pensou que já conseguia andar.  O pior foi depois, tentou por-se em pé no quarto e logo lhe faltaram as forças na perna esquerda... 
Hoje dizia-me em voz baixa, "Tenho medo, sabe? Não quero cair de novo, ainda sinto as dores cá dentro..."  Respondi que ainda era cedo, que a fisioterapia demora sempre um pouco a ter resultados, que não vale desistir.   Mas sei que não é assim tão certo...  Infelizmente não existem barras paralelas transparentes que nos permitam andar apoiados sem ninguém perceber, senão era o que lhe deixaria no sapatinho, na noite de Natal.


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