terça-feira, 26 de novembro de 2013

Diário de uma Voluntária 26/11/2013 (parte 1)
Ela avisou-o tantas vezes... Durante trinta e cinco anos de casados fez do cuidar dele a sua prioridade. Para ela nada era mais importante do que o seu bem estar. A sua saúde, os cuidados com a alimentação, o repouso e até os caprichos estavam à frente de tudo o resto. Era criticada por alguns familiares que achavam que se anulava, mas isso não tinha qualquer importância para ela. Ele não a ouvia, na maior parte das vezes brincava com isso e chamava-lhe "mãezinha". Ela não desistia e na refeição seguinte, de novo, mostrava-lhe porque estava na vida dele.
Hoje conheci-o. Está sentado numa cadeira de rodas na sala da televisão. Chama-se Manuel, nome real e também plebeu, e diz-me que eu sou uma "graça". Quer contar-me porque está aqui. Quer justificar a queda que deu há uns dias. Repete vezes sem conta que devia ter dado ouvidos à mulher, que devia ter seguido os conselhos dela, mas ela já cá não está para o ouvir... 
Tenho para mim que se a gente pudesse redesenhar a nossa vida não haveria espaço para o arrependimento nem para a dor...

Sem comentários:

Enviar um comentário