sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Diário de uma Voluntária 30/07/2013
 
Hoje foi o dia das despedidas. E dos regressos. E dos acabados de chegar.
Hoje foi o dia de muitas emoções. De novas aprendizagens. Da revisão da matéria dada.
Hoje foi o dia da despedida da Rosário. Uma das auxiliares mais simpáticas que conheci desde o meu primeiro dia no HSM, uma mulher com uma disponibilidade e uma paciência invulgar. Vai-se reformar, depois de mais de quarenta anos de
um trabalho pesado e nem sempre bem remunerado. Fica a recordação da forma carinhosa como me recebia, nas tardes em que o seu turno coincidia com o meu, fica a lembrança da alegria com que nos contava quando, sempre no mês de junho, fazia parte da marcha de Carnide, nas festas de Lisboa. Estava feliz e com muitos planos para o resto dos seus dias. Desejei-lhe saúde, sorte e, sobretudo, disse-lhe que não deixasse de me falar, se me visse por aí...
Hoje foi o dia do regresso do Sr João. Pela enésima vez voltou à consulta e ficou, uma vez mais, internado. Recebi-o com o sorriso de quem revê um amigo, brinquei com ele, disse-lhe que "não sabia como matar as saudades e, por isso, voltava". Estava triste e cabisbaixo e, pior do que isso, descrente das melhoras que lhe desejei...
Hoje foi o dia em que conheci a D Amélia. Acabada de chegar, vai ser operada amanha e está cheia de esperança. Contou-me que já é o terceiro hospital por onde passa e, encolhendo os ombros, disse-me que ainda não conhecia o HSM. Falou-me da sua doença, precisava urgentemente de contar a alguém que a ouvisse. Desejei que tudo corresse bem e que depois de amanhã, quando eu voltasse, já falassemos de tudo num tempo passado...
Hoje foi o dia de muitas emoções. O Sr Fernando, na casa dos 80, elogiou o meu carinho e dedicação. Disse que valia a pena estar ali, só para ser ajudado por uma voluntária tão simpática. Disse-me, com os olhos azuis a brilhar, que hoje tinha estado a matar saudades da mulher, que já não via há dois dias. Desejei que ficasse bem depressa para que as saudades não tivessem mais que fazer parte do resto dos seus dias...
Hoje foi o dia de novas aprendizagens. Percebi que as nossas mãos e os nossos pés só nos transportam se nós quisermos - quando não, existem umas asas invisíveis que consegui ver nos ombros do Sr Vitor e que nos levam por aí. Ele ali estava, sentado na cama, com as mãos ligadas de uma operação recente e amputado numa das pernas, mas conversou comigo como se me acompanhasse em passeios virtuais. Desejei que a dor fantasma que sentia, na perna que já não tinha, fosse, também ela, amputada para sempre...
Hoje foi o dia da revisão da matéria-dada. De facto, o mais importante, o que me move, são mesmo os afectos. E todas estas experiências que me fazem valorizar a vida, cada dia mais!

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