sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Diário de uma Voluntária (23/07/2013)
 
Assim não vale! Chegar lá, perguntar por um nome e dizerem que já não está, que desistiu, não pode ser.
Cada vez mais acredito que devíamos ter um prazo de validade ao nascer. Devíamos poder saber o número de anos e de dias que podíamos viver e orientar a nossa vida de acordo com esse prazo. Do género empréstimo bancário, a x anos e um dia, sendo que esse dia seria usado para nos despedirmos d
o que mais gostamos. No resto do tempo, seriamos donos e senhores de fazer o que bem entendêssemos, sem ter de deixar para os filhos o encargo de concluir as nossas tarefas.
Doenças que terminam de forma inesperada com a vida ou que nos deixam prostrados numa cama à espera que outros vivam no nosso corpo por nós, nas necessidades mais básicas, não se aceitam... De todo! Não é justo não ter tempo de voltar a casa, arrumar o que ficou fora do sítio, deixar feita a revisão do carro, ir conhecer aquele restaurante de que se fala, ter a conversa que andamos a adiar com o nosso filho, etc, etc... Não é justo, não me parece nada bem... Tudo seria feito com calma se soubéssemos o tempo que teríamos o nosso dispor. De que serve viver na expectativa e fazer planos se, de repente, tudo pode ficar assim, no vazio? E que culpa têm os outros, coitados, que, para além de ficarem sem nós, ainda ficam com uma mão-cheia de coisas inacabadas? Não está certo... Sei do que falo, já saí de casa uma manhã e voltei duas semanas depois, sem planear... Tenho a certeza que a vida seria bem mais apreciada se assim fosse. (como uma taça de gelado que saboreamos até ao fim e não gostamos menos por saber quando esse fim chega)
Hoje ao chegar, perguntei pela D Elisabete. Disseram-me que já não estava, que tinha desistido. Não sei se se apercebeu de ter desistido, a única coisa com que comunicava, os olhos, enchiam-se de lagrimas de vez em quando... fiquei triste, muito triste, mesmo...
Assim não vale!

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