quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Cada vez me apego menos aos objectos.  Às coisas, à matéria.  Cada vez me fazem menos falta.  Ocupam espaço, pesam, criam raízes, fazem sombra.  Obrigam-me a pensar neles, olhar por eles, cuidá-los.  Discutir por causa deles, por vezes.  Pô-los à frente dos afectos, nalgumas vezes usá-los em seu lugar.  
Cada dia me sinto mais desprendida.  E isso faz-me pensar que estou aos poucos a despedir-me, a libertar-me.  A colocar cada coisa no seu devido lugar.  E a seguir viagem.  Porque, na verdade, nenhum deles me faz falta.  
Cada vez me apego mais às lembranças.  Às imagens, aos cheiros e aos sons que viajam comigo.  Por mais que o tempo passe, não me liberto delas, fico cativa por livre vontade.  Guardo-as, cuido delas, fazem todas parte do ontem que me trouxe até aqui.  Se tivesse que me separar de alguma, por falta de espaço, seria  muito injusto.  

Estranho?  Não.  Nada estranho.  Como é que vou saber de que memórias vou precisar quando envelhecer?  Quando o tempo for imenso e eu precisar de companhia?  Quando chegar o dia em que os únicos objectos que precise forem uma cadeira e uma janela para ver o sol a desaparecer no mar?

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