Não se vê a rua do lugar onde trabalho. A janela é longe e está fora do meu campo de visão. À minha frente tenho uma parede onde está um desenho do mapa mundo e o meu pc. Em ambos e com ambos posso viajar mentalmente. Sem sair daqui, consigo chegar a destinos tão longínquos como uma praia na Austrália ou um restaurante em Macau. Imaginar-me em Nova Iorque ou em Paris, sentar-me numa esplanada na margem do Sena ou subir à Torre Eiffel. Visitar museus e galerias de arte ou, até mesmo, passear num qualquer jardim da cidade. Eu posso. Mas não quero. Falta-me o cheiro, o vento na cara, o barulho da rua. Falta-me as vozes dos transeuntes, o assobio do rapaz à rapariga que ali vai e que me lembra as minhas filhas. Falta-me o ar frio nas mãos e a senhora a quem pergunto uma morada. Falta-me gente à minha volta. Sobra-me conforto e espaço. E tempo. E saudades.
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