Lisboa. A minha cidade. Uma das minhas cidades. Onde vivo e onde estão dois dos meus amores maiores, as minhas filhas. Onde é a minha casa. E me sinto em casa. Gosto dela de uma forma narcisista. De uma forma desinteressada. Porque é um pouco a minha cara, porque fazemos parte da vida uma da outra desde há muito tempo, porque tem sido o meu caminho. Pela luz, pelo espaço. Pelas avenidas largas. Pelos prédios. Pelos jardins e pelas esplanadas. Pelo rio, sim, pelos passeios à beira rio. Por não ser grande demais que me faça sentir perdida. Por ter o tamanho certo. Por ter tudo o que preciso. Ou quase. Também tem buracos nas ruas e pedintes a dormir nos passeios. Tem prédios abandonados e lojas fechadas com letreiros nas montras. "Trespassa-se", lê-se. Por vezes também "fechado". E quando páro num cruzamento com o sinal vermelho, é rara a vez que não tenho de dizer não a uma esmola. Ou recusar comprar a Cais ou o Borda d'Àgua. Tem pessoas isoladas que são como ilhas. De quem ninguém cuida. E que morrem sozinhas tendo o resto do mundo como vizinho.
Lisboa é como eu. Não é perfeita. Nem perto disso. Mas não vivo sem ela. Como não vivo sem mim...
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