Tu sabes, eu não ando sozinha. Mesmo quando marco um quarto de hotel só para mim e na sala de pequeno-almoço encontro casais cúmplices e carinhosos, eu não me sinto só. Mesmo quando me sento sozinha numa mesa de restaurante e me observam de outras mesas, sei que tu estás lá ao meu lado. Ainda quando faço viagens sozinha, acompanhada pelos quilómetros que deixo para trás, ouço-te respirar ao meu lado e sinto-te ali. Estiveste recentemente comigo em Braga, nos mesmos lugares onde fomos antes, hoje fizeste-me companhia na viagem, contaste-me outra vez as histórias que ainda não esqueci. Hoje vivo na cidade que te viu nascer há mais de cem anos e que tu nunca chegaste a conhecer. Mas que ias adorar, tenho a certeza, apesar de ser longe do mar.
Vai fazer oito anos que deixei de te ver, quando tenho os olhos abertos. De ouvir a tua voz responder-me, quando me dirijo a ti em pensamento. De ler a tua letra a saudar-me, como sempre, de cada vez que escrevias "minha querida neta"...
Durante todo este tempo muita coisa mudou nas nossas vidas. Somos os mesmos, mas diferentes, como se a tua ida tivesse produzido uma revolução nas ideias e nos sentimentos. Os dias continuam a suceder-se às noites, as semanas passam e quando damos conta já estamos no mês seguinte, no ano seguinte. Tudo diferente. Só a tua falta é que é sempre igual.
Ainda gostava de te ouvir, de saber a tua opinião, de responder às tuas perguntas. Ainda gostava de te confidenciar os meus planos. De te contar sobre os meus receios e medos. Ainda conto contigo para te falar do futuro que eu desenho para mim, com sonhos inteiros dentro dele.
Morrer é apenas deixar de ser visto, digo sempre isto para mim quando penso em ti. Mas é também deixar de ser tocado, deixar de ser ouvido, deixar de ser abraçado. Morrer não serve para nada mesmo, a não ser para nos fazer sentir que tudo isto é um vazio enorme e que, no final, ficamos assim, despidos, desprotegidos, sem chão. Como aquele esqueleto de árvore que abana com o vento, lá fora, sem folhas, sem alma, com frio...
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