quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Diário de uma Voluntária 12/12/2013

Estão sentados na sala de convívio em silêncio, como se estivessem dentro dos seus próprios pensamentos. O único som que ouço quando entro na sala são as vozes alegres da Tânia Ribas de Oliveira e do João Baião, que apresentam o programa da manhã. Parece-me que só eu os ouço, só eu dou pela sua presença. De resto, todos estão imóveis, calados, como numa fotografia. Dou os bons dias da porta quando entro e, depois cumprimento-os individualmente e troco algumas frases sobre temas de cada um. Chamo-os pelo nome, sempre, socorrendo-me da minha memória. O nome que, na maioria dos casos, é a única coisa que possuem do passado, que os continua a acompanhar ali dentro. Para trás deixaram a casa, os quadros e os móveis, os vizinhos, a caixa do correio, a profissão. Para trás ficou a vida inteira. Aqui com eles vivem apenas as memórias, a saudade e o nome, o seu nome que é único e insubstituível. Mesmo que naquele local estejam duas Anas ou três Isabel, todas são diferentes e a sonoridade de cada nome é irrepetível. Para eles eu sou um anjo ou uma amiga, um raio de sol ou um livro que lhes traz histórias antigas que gostam de recordar. Sou a confidente que os escuta quando é tempo de desabafos, a mão que lhes chega o lenço quando a tristeza está por perto. Na maior parte das vezes escuto. Dou o mote e escuto o que vem atrás. Que é sempre novidade. Ainda que já me tenha sido contado aquele episódio, tento sempre ouvi-lo pela primeira vez. Porque de todas as vezes tem ingredientes novos, mesmo que o final seja o mesmo. Todos os dias aprendo coisas com eles. Hoje foi a consciência de que para eles o seu nome é o som que mais gostam de ouvir dito pela minha voz. E que é, também, a única coisa que verdadeiramente está connosco para a vida.

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