quarta-feira, 6 de novembro de 2013



Diário de uma Voluntária 02/10/2013

Às vezes penso que já vi tudo, que já senti tudo, que domino tudo... outras vezes, acredito que nada sei e que tudo é novo para mim. 
Quando em 2010 me disseram que não nos deveríamos envolver emocionalmente com os doentes, enquanto voluntárias, pareceu-me ser uma coisa simples e muito fácil de concretizar. 
Claro que saberia pôr-me no meu lugar, de uma certa forma, eu apenas estou ali para ajudar, nada mais. Claro que não foi nada disto que aconteceu com algumas pessoas. 
Fui criando ligações de amizade, de afecto, de dependência, semana após semana, ao chegar já me dizia que "estava a ver que não vinha hoje", à saída a despedida era "até 5ª feira" para mais conversas, ele dizia que eu era a voluntária mais simpática e engraçada do hospital, acrescentando depois que era a única que conhecia e com quem falava... e eu achava-lhe graça (!). Falávamos sobre tudo, ele contava as histórias que tinha, imensas, de anos e anos de profissão, eu fazia todas as perguntas que me era permitido fazer, ele dizia que "um jornalista nunca se reforma, retira-se!" e eu respeitava-o por isso. Apresentou-me a todas as visitas que coincidiam com a minha hora naqueles dias, como sendo "a sua amiga voluntária, a única que estava ali porque queria"... e eu gostava dele por isso. 
No meu regresso de férias soube que tinha ido de novo para a sua cidade e fiquei contente por finalmente já não estar internado. 
Hoje foi ele a noticia, aquela que ninguém tem pressa de saber...
Como Vasco Lourinho certamente diria, não sei como interrompem a vida de uma pessoa para dar uma noticia destas...

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