quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Da mesa ao lado chegam vozes femininas por entre os meus pensamentos. A conversa, interrompida por gargalhadas juvenis, fala sobre uma despedida de solteira que irá acontecer na próxima semana. E nos projectos que chegarão com o casamento. E numa vida a dois dentro de uma casa nova recheada com móveis e louças, candeeiros e quadros, carpetes e electrodomésticos, tudo comprado com o dinheiro e o gosto dos pais da noiva. E em promessas de emprego garantido para o noivo na clínica dentária do papá. E na viagem de núpcias. E no vestido. E no copo-de-água. 
Com tudo isto, o meu pensamento desviou-se da simplicidade do meu dia-a-dia e ficou, também ele, dentro daquela casa pronta a habitar, mesmo no meio do hall entre espelhos e cristais... 
De repente as gargalhadas deram lugar ao silêncio quando se falou no amor. Quando uma das presentes perguntou à noiva onde se tinham conhecido, onde tinha nascido este amor tão súbito, já que ninguém do grupo conhecia o rapaz. Foram colegas de faculdade numa outra cidade, estudavam juntos todos os dias, respondi eu em vez dela, em pensamento... não, interrompeu a noiva cheia de certezas, tinham-se conhecido através do facebook e namoravam há uns longos três meses. O meu pensamento parou ali... recusou-se a acompanhar aquela aventura inconsciente, apadrinhada pelos pais da noiva que mais pareciam querer comprar a felicidade e o futuro da filha. Que menina infeliz, pensei eu... que família estranha e acomodada, que não questiona as coisas, certamente com medo de ouvir uma resposta... 
Levantei-me e fui pagar o meu chá ao balcão. No caminho para casa dei comigo a pensar em outras conversas, em outras esplanadas, já sem gargalhadas, procurando descobrir diferenças onde nunca existiram semelhanças...

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